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A onda agora é o “politicamente correto”

O copiar, no Brasil, é uma prática antiga que já se arraigou em nossa cultura e nos especializou em aderir a modismos das mais diversas espécies. O gerundismo foi uma praga que vai demorar muito para desaparecer. Se é que vai desaparecer: “Nós vamos estar anotando o seu pedido e vamos estar enviando a mercadoria amanhã…”. Estrangeirismo, nem se fala. Termos técnicos em inglês circulam em todas as profissões.

Mas a onda agora é o “politicamente correto”. Nunca se falou tanto disso em nosso país, justamente um país acostumado a copiar modismos de além-mares de todas as espécies. Os “Big Brothers”, os “The Voice”, os “Lata Velha” e tantas outras subculturas invadiram as nossas telinhas e chegam por aqui como novidades e são copiadas até à exaustão. Mas voltando ao título desta crônica, eu pensava que “politicamente correto” fosse ficar contra aquela bandidagem que se instalou no poder em nosso país, que dilapidou a Petrobras e cujo líder maior ainda está solto, não se sabe por que cargas d’água. Mas o politicamente correto pregado e disseminado em nosso país atualmente está mais para o “Tribunal da Inquisição” instalado naquelas épocas de chumbo do Cristianismo, quando se discriminou, se torturou e se matou, no “fogo purificador” das fogueiras, milhares de inocentes. Em Rouen, na França, podemos ver em seu centro histórico o monumento à Joana D’Arc, a jovem que ainda não completara 20 anos e que foi incinerada pela intolerância. Sua estátua em mármore está ali, na Praça do Mercado daquela histórica cidade.

No Brasil, a coisa está tomando um rumo estranho. Há um policiamento cultural que vê fantasmas e maldade em tudo. Viram o carnaval deste ano? As marchinhas tradicionais que animaram tantos foliões no passado foram praticamente execradas. “Olha a cabeleira do Zezé” não pode porque é ofensiva ao terceiro gênero. “O teu cabelo não nega”, porque é racista. “Adão, Adão, me conta por que é que é” pelo mesmo motivo. “Mulata Bossa Nova” também, assim como tantas outras. “Maria Candelária”, porque ofende servidores públicos, ao afirmar que a Maria da marchinha começa seu trabalho ao meio-dia, à uma hora vai ao dentista, às duas vai ao café, às três ao oculista e às quatro assina o ponto e “dá no pé”…  Parece que ressuscitaram o Torquemada, o grande ícone da Inquisição espanhola, confessor da rainha católica Isabel da Espanha e inquisidor-geral de Castela e Aragão no séc. XV.  A bruxa está solta.

Ora, há um exagero nesses puristas comportamentais, muitos deles que engrossaram fileiras contra a punição de certos corruptos que abalaram a história do nosso país e da civilização ocidental com os escândalos da “petrorrombo”. Os autores daquelas marchinhas jamais tiveram intenções racistas ou ofensivas quando lançaram suas músicas. Aliás, o mais importante é a intenção. Quantos palavrões são usados, às vezes, como demonstração de afeto, mas dependendo da entonação e do momento, aí sim, são agressivos e ofensivos. Uma indústria de tubos tentou mudar isso, lançando outras formas de expressões verbais para demonstrar a indignação do momento, com os chamados “palavrões fofinhos”, mas não levaram em conta que é justamente a intenção de quem profere o palavrão disfarçado que confere a ele seu teor de violência. “Pirulito que bate-bate”, “sorvete de passas ao rum”, “cajuzinho diet”, “vai colecionar papel de carta” ou o gesto agressivo do dedo mínimo em vez do dedo médio, podem ser muito mais ofensivos, principalmente pela entonação e veemência com que são pronunciados na propaganda, do que, por exemplo, quando se diz: “A fulana é ‘FDP de bonita’”, ou “O fulano comprou uma ‘puta fazenda’ de 200 alqueires”. Não são as palavras que ofendem, são as intenções.

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