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A violência nos morros

Houve um tempo em que os morros ou regiões periféricas dos grandes centros urbanos não eram conhecidos pela violência das facções do tráfico, como são hoje. Tirando fora o mero romantismo, os morros guardavam até certa poesia e conservavam e cultuavam uma cultura peculiar que os diferenciavam da cultura do asfalto. Quer na originalidade vocabular, quer nos hábitos cotidianos, possuíam um modo próprio de ser.

A superpopulação dos grandes centros, provocada pela industrialização, acabou por empurrar para essas áreas contingentes imensos de população, sem as mínimas condições de infraestrutura. Abandonadas pelo poder público, sempre omisso nas questões sociais, essas áreas “favelizadas” tornaram-se presa fácil para o tráfico de drogas ilícitas. O poder do tráfico, importador de drogas e de armas de grosso calibre, cresceu e multiplicou-se em facções disputando a tiros o domínio de cada região, até que se tornaram um poder paralelo ao Estado. O crime organizado organizou-se melhor do que o Estado que teria a função e o dever de combatê-lo. Hoje assistimos pelos noticiários a um clima de guerra em que participam quadrilhas rivais e as forças policiais, aterrorizando a população. Mata-se mais gente nesses confrontos do que nos confrontos no Oriente Médio.

Esses problemas não têm sua raiz apenas na injusta distribuição de riquezas. Se fosse assim, não teríamos esse imenso contingente de políticos, empresários e diretores de Estatais corruptos, como temos. Bem abonados e com grossas contas em Bancos, esses homens não teriam a necessidade econômica como motor para sua corrupção. Além de uma injusta distribuição de riquezas, há em nosso país a consciência da impunidade, a certeza de que tudo pode acabar mesmo em pizza. Por isso, mais da metade (e talvez muito mais) dos integrantes do nosso Congresso estão envolvidos em algum escândalo de corrupção. Um Governo assim, onde um ex-presidente da República está condenado a quase dez anos de cadeia por corrupção; uma ex-presidente perdeu seu mandato por irregularidades no governo; Ex-Governadores presos por corrupção; o atual Presidente denunciado por corrupção e grande leva de Ministros, Deputados e Senadores com o mesmo destino, era de se esperar que o governo, ou o desgoverno desse nosso amado Brasil acabasse cedendo lugar ao poder paralelo da criminalidade. Moral e eticamente, entre esses políticos e empresários condenados e os traficantes, não existe nenhuma diferença.

E pensar que a esquerda contribuiu imensamente para isso! Quando, na época do Governo Militar, os terroristas e assaltantes de bancos de Organizações Terroristas como a POLOP-Política Operária, COLINA-Comando de Libertação Nacional, VAR-Palmares e dezenas de outras, eram presos na Ilha Grande, ensinavam aos presos comuns alojados naquele presídio, as técnicas de subversão como o uso de bombas caseiras, assaltos a quarteis e a Bancos. Contribuíram assim para o “aperfeiçoamento” daqueles presos. Hoje, muitas das técnicas usadas pelas gangs dos morros são aperfeiçoamentos daqueles primeiros ensinamentos ministrados. O interessante é que muitos daqueles antigos “presos políticos”, (como gostavam de ser chamados) se transformaram em “políticos presos”. Por isso as pessoas com mais de setenta anos e que viveram em grandes centros na época dos Governos Militares, quando assistem ao fantasioso seriado da Globo “Os Dias eram Assim”, entendem perfeitamente que, na realidade, os dias não eram assim…

Mas a violência veio e se instalou nos grandes centros urbanos e se espalha por cidades menores, como a nossa Muriaé. O povo ordeiro se transforma em refém da violência e se gradeia em suas residências transformadas em prisões domiciliares. Sabemos que é necessária sim uma revisão nas ações sociais que se empreendem. É necessária uma moralização urgente nos quadros políticos e empresariais contaminados pela corrupção.

A família seria a unidade principal para essa transformação. Mas isso é coisa para médio e longo prazo. A urgência maior e mais imediata está mesmo no enfrentamento ao Poder Paralelo que se instalou com um eficaz e enérgico poder de polícia. Há momentos em que o papo psicológico e antropológico deve ser deixado para depois.

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