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As romarias ao Padre Santo

Romaria significava de início as peregrinações religiosas à Roma, quando multidões de fieis se concentravam na Praça São Pedro, no Vaticano, para contemplarem, ainda que de longe, o Sumo Pontífice que se postava por alguns minutos na minúscula janela do palácio papal. Depois o termo se estendeu a qualquer tipo de peregrinação religiosa e hoje se aplica algumas vezes a multidões que se dirigem a algum local para observarem um fato que lhes chame a atenção.

São muito comuns e concorridas as romarias de fieis a Lourdes, a Fátima e a Aparecida do Norte, atendendo a um chamamento interior explicável apenas pelo mistério de uma fé inabalável que os anima.

Na década de 1950 eram numerosas as romarias de fieis que se dirigiam ao pequeno lugarejo de Urucânia, então distrito de Ponte Nova, para assistirem às bênçãos que se diziam milagrosas, do famoso Padre Antônio Ribeiro Pinto, o taumaturgo iluminado de Nossa Senhora das Graças, que diziam ser santo e realizador de uma infinidade de milagres. Os fieis convergiam de diversas partes do país, principalmente de Minas Gerais, à espera do milagre desejado. Deficientes físicos, visuais, auditivos, portadores de doenças mentais e das mais variadas moléstias se aglomeravam na Praça e ruas do lugarejo e munidos de terços e rosários faziam fervorosas preces esperando pela cura desejada. Em determinado momento o esperado Padre Antônio surgia em uma das janelas da casa paroquial e dali se dirigia à multidão de fieis fazendo sua pregação e, recitando orações em latim, procedia à bênção das águas e das medalhas da Virgem Maria, erguidas pelos milhares de fieis.

Em 1949, lembro-me bem, meu pai, a pedido da minha mãe, nos levou a Urucânia para vermos o famoso padre.  Fomos a bordo de uma Pic-Up Ford 1929, distribuídos na cabine e na minúscula carroceria de madeira do veículo.

A viagem de mais ou menos 150 km foi, para a época, uma aventura. Umas seis horas em estrada de terra empoeirada. A meio caminho o pneu furou e meu pai o trocou pelo sobresselente (assim se chamava o pneu reserva). O que não contávamos era que poucos quilômetros a frente outro pneu furaria. Mas o que não faltava em meu pai era a criatividade. Pegou a roda com o pneu furado anteriormente, tirou com uma espátula uma das abas do pneu para fora e nos mandou pegar o máximo de capim nos barrancos à beira da estrada. Com aquele monte de capim meu pai fez o enchimento do pneu, colocou a aba de novo para dentro da roda e tínhamos de novo um pneu apto para rodar…! Suados, cansados, mas com um sorriso de vitória, embarcamos novamente naquele saudoso Ford 1929 e prosseguimos a viagem.

Não demorou muito e estávamos em Urucânia. Difícil foi achar um lugar para estacionar o carro e quando encontramos foi bem longe da concentração popular que já madrugara no vilarejo. Assistimos aos depoimentos de centenas de pessoas que se diziam curadas, assistimos à  missa do carismático padre, suas orações em latim, segundo o costume da época e a cerimônia de bênção de medalhas e garrafas de água.

Do padre, de compleição magra, óculos de aro e uma contagiante bondade no falar, não posso afirmar se era verdadeiramente um milagreiro ou portador de mensagens milagrosas. Mas a fé que inspirava naquela multidão de fieis talvez fosse o motor para uma modificação interior em algumas pessoas capaz de promover curas no corpo e no espírito. Afinal, como dizia Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor a nossa filosofia…”.

Mas a viagem foi uma maravilhosa aventura e um componente a mais para a formação daquele menino de 9 anos, hoje já próximo dos oitenta, que pode ainda não ter achado o que procura mas também já não anda mais procurando com tanta vontade…

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