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As torrefações de café nos anos 60

O presidente Jânio Quadros tinha mesmo algumas ideias brilhantes. Não me refiro àquela de tentar proibir as mulheres de frequentarem as praias de biquíni, mas outras ideias interessantes como, por exemplo, proibir a circulação de caminhões trucados, pois o peso concentrado em uma menor área comprometia o asfalto das rodovias.

Eleito por cerca de 6 milhões de votos em uma coligação do PTN com a UDN, um recorde para a época, Jânio foi um fenômeno eleitoral nos anos 60 e um revolucionário administrativo nos aproximadamente sete meses em que governou o país.

Naqueles tempos, o café consumido pela população brasileira era da pior qualidade. As torrefações, na ânsia de um lucro maior, torravam “escolhas”, cafés ardidos ou brocados, e a população sofria com um produto da pior qualidade. O IBC – Instituto Brasileiro do Café era impotente para disciplinar o processo. O governo adotou, então, uma política interessante: Os comerciantes de café, para exportarem o produto, eram obrigados a entregar ao governo uma cota de 10%, chamada de expurgo, composta justamente de “escolha”, cafés ardidos ou brocados, pedras e outras impurezas. O objetivo era tirar do mercado justamente aquelas impurezas, para que a população pudesse beber um café melhor. Uma parte do café tipo sete e de boa qualidade seria comprada pelo governo ao preço de 650 cruzeiros a saca de 60 quilos e vendida aos torradores pelo preço subsidiado de 360 cruzeiros. Com isso, o governo pretendia melhorar a qualidade do café consumido pela população. O plano era excelente e a intenção, a melhor possível. Os torradores retiravam o produto em armazéns autorizados. Os torradores de Muriaé retiravam as suas cotas em um armazém autorizado, em Manhumirim.

Estranhamente, o número de torrefações começou a aumentar assustadoramente em todo o país. Não demorou muito para se descobrir que a maior parte dos torradores não torrava o café que recebia subsidiado. Ao contrário, emitiam apenas notas fiscais de saída, como se tivessem torrado e vendiam o café aos comerciantes. O mesmo café transitava várias vezes entre o governo e as torrefações. Em Muriaé houve até um caso hilariante e digno de nota. Um torrador, desses que vendiam o café cru, recebeu um dia a visita de um fiscal do IBC. O fiscal, já desconfiado do tal torrador, datou e assinou um papel e o colocou dentro da fornalha apagada da torrefação, sem que o torrador visse. Vinte dias depois, o fiscal voltou ao local. Pelas notas tiradas, o cara já havia torrado cerca de 200 sacas do produto. O fiscal foi até a fornalha e retirou de lá o seu papel datado e assinado, intacto. É claro que a torrefação foi fechada.

O governo teve, então, a genial ideia de, ao receber o café do comerciante, pintá-lo com óxido de ferro, o vermelhão. A partir daí seria impossível o café voltar ao governo novamente. Tinha que ser torrado mesmo. A reclamação foi geral, falou-se até que o óxido de ferro era cancerígeno, que fazia mal para o estômago e tantas outras bobagens. O certo é que a grande maioria dos torradores abandonou a profissão e o número de torrefações voltou ao normal.

Coisa do tempo do Jânio, uma personalidade controversa que, à época de sua campanha, visitou a nossa cidade, hospedou-se na Rua Desembargador Canedo, onde eu morava… ali na casa do Dr. Jorge. Dali, saímos em passeata para o monumental comício da Praça João Pinheiro. Ah, se não fossem as forças ocultas, não teríamos a renúncia, nem a entrada do agitador João Goulart no processo, nem o regime militar e nem… principalmente nem… a PeTralha do Petrorrombo e esse mar de lama…

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