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CANDEIA, ILUMINANDO OS CAMINHOS DO SAMBA

Adellunar  Marge

Antônio Candeia Filho foi um daqueles sambistas geniais que povoam a história da música popular brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro em 17 de agosto de 1935 e faleceu na mesma cidade em 16 de novembro de 1978. Seu pai, flautista habilidoso, organizava em sua casa, no Bairro “Oswaldo Cruz”, rodadas de choro, que eram freqüentadas por famosos expoentes do Samba e do Choro da época, como: Paulo da Portela, João da Gente, Dino do Violão, Zé da Fome e do grande flautista Luperce Miranda. Desde os seis anos de idade o pequenino Candeia já assistia a esses encontros e foi dali que começou a desenvolver o talento que já trazia no sangue. Aprendeu violão e cavaquinho e passou a participar ativamente daqueles encontros musicais em sua casa. Como integrante da Escola de Samba “Vai Como Pode”, fez parte do grupo que fundou a Escola de Samba da Portela.

Candeia tinha um temperamento difícil e, como policial civil no Rio de Janeiro, extravasava sua agressividade nos marginais e prostitutas que prendia, a serviço da sua profissão. Em um desses momentos de reação agressiva, no dia 13 de dezembro de 1965, quando transitava em um automóvel acompanhado de um amigo pela Av. Presidente Vargas, no centro da cidade, discutiu com o motorista de um caminhão que havia abalroado seu carro. Sacando da sua arma furou a tiros os pneus do caminhão. O motorista, que também estava armado, desferiu cinco tiros no Candeia e em um deles a bala alojou-se na coluna do policial sambista deixando-o paralítico para o resto da vida. Treze anos em cadeira de rodas acabaram por comprometer os seus rins, mal que causaria a sua morte.

Analisando a sua obra, críticos musicais constatam que esse episódio dividiu a vida musical de Candeia em dois momentos distintos. O primeiro em que o compositor era mais agressivo e temperamental e o segundo, quando a agressividade cede lugar a um Candeia mais romântico, refletindo um sentimentalismo maior em suas músicas. Após a sua aposentadoria forçada do cargo de policial, Candeia dedicou-se exclusivamente as suas composições musicais.

Foram centenas de músicas da melhor qualidade, como, por exemplo, “Dia de Graça”, “Filosofia do Samba”, “Silêncio Tamborim” e tantas outras.

Mas é inegável que um dos seus maiores sucessos foi o samba “Preciso me encontrar”, gravado pelas mais importantes vozes brasileiras e cuja primeira gravação (uma das melhores) ele proporcionou ao seu amigo e também grande expressão do samba carioca, Angenor de Oliveira, o popular Cartola.  Não menos famosa é também a gravação mais recente feita em dupla de Zeca Pagodinho com Marisa Monte.

Dizem que o samba “Preciso Me Encontrar” foi composto por Candeia a pedido de um jornalista que passava por um momento de crise existencial e disse ao sambista que desejava que o compositor fizesse uma música sobre aquele momento da sua vida.

O citado samba, em sua letra magistral, reflete mesmo um momento de amargura existencial mas, ao mesmo tempo, uma chama de esperança de encontrar um caminho, que seria encontrar-se a si mesmo em uma profunda busca interior.

A poesia tem essa função justamente porque é um instrumento capaz de tirar o homem da materialidade existencial e revelar-lhe  a sua essência. A música, quando consegue aliar letra e melodia na expressão poética, atinge com amplitude esse objetivo. Assim acontece com sambas saídos da imaginação criadora de um Candeia, um Cartola e tantos outros.

 

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