Folia
Carnaval é sempre um período para descontração e, especialmente, para liberar energia (sem os excessos que possam nos trazer problemas). Folia tem também muito de loucura. Não é à toa que sua origem está ligada a “folie”, loucura em francês.
Então, nesta semana, eu uso o espaço da minha crônica semanal para alguns poemas. Afinal, poesia é também libertação interior. Principalmente porque a arte tem o privilégio da amplitude de comunicação. O significado transcende a palavra e empresta ao leitor possibilidades quase que ilimitadas de entendimento. A obra poética é sempre aberta à interpretação de quem lê.
GALILÁCIAS – Poema em prosa
Galileu não sabia só de Física.
Enófilo de carteirinha,
dizia que o vinho era a luz do sol
em forma de humor líquido.
Era Dioniso quem lhe soprava no ouvido
as suas grandes ideias.
Um dia, o alegre e libidinoso deuzinho de sorriso matreiro
quase o matou:
encucou-lhe que a Terra rodava, numa ciranda louca,
em volta do sol.
Inda bem que a reunião com os severos padres foi de manhã,
quando Dioniso já se mandara…
Galileu disse aos padres que era tudo brincadeirinha.
Quem rodava numa ciranda louca era o sol, em volta do planeta azul,
encantado com a sua beleza…
CONCEITO
No princípio era a esperança.
Esperança de redenção
pelo homem.
Depois a solidão do Criador.
Também!
Em vez de barro
o homem deveria ter sido feito
de aço,
para suportar as dores e o cansaço
dessa existência maluca…
DESARTE
Mondrian foi assim:
Simplificou,
simplificou e
simplificou
as cores e os traços,
até eliminar qualquer vestígio de arte.
Palmas para o marceneiro…!
Restou a moldura.