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LÍNGUA, MUDANÇAS E IDENTIDADE NACIONAL

Adellunar Marge

É claro que uma das principais características de uma língua é o seu caráter dinâmico. Uma língua muda como muda o modo de ser dos seus falantes através dos tempos. Assim, o português falado e escrito nos dias atuais se difere do português nos idos de Camões, o mesmo acontecendo com o inglês atual e o inglês dos idos de Shakespeare. Quem nega isso, nega a própria realidade.

O que se discute às vezes é a rapidez da mudança e o mudar, não às vezes pela necessidade impositiva da mudança, mas por modismos que vêm e vão ao sabor das ondas do tempo. É claro que a rigidez excessiva de normas lingüísticas engessa até mesmo a possibilidade de exposição livre de um pensamento. A Língua francesa, por exemplo, se mantém presa a normas muito antigas, grande parte delas ainda remanescentes dos tempos do Iluminismo. Segundo Paul Valery, a ortografia francesa, fixada pela Academia Francesa, eram regras rígidas e a famosa  entidade afirmava na época que “…esta Academia declara que deseja seguir a ortografia antiga que distingue os homens de letras dos ignorantes e das mulheres simples”.

Apesar de todo o engessamento a Língua francesa ainda foi o grande veículo das mais importantes manifestações do gênero literário e filosófico que influenciaram durante vários séculos a civilização ocidental. Só em 2016 foram apresentadas algumas propostas de mudanças para a troca de alguns acentos circunflexos por acentos graves, em algumas palavras francesas.

Não o engessamento da língua a normas irredutíveis, mas um certo zelo com a tradição é necessário preservar. Alguma coisa que mantenha a unidade lingüística e cultural de um povo, em oposição aos modismos e caprichos de pretensos inovadores. No Brasil temos o hábito cultural já arraigado de copiar tudo que vem de fora e abrir mão do nacional. As lojas usam e abusam do “caso possessivo” da língua inglesa, usando em seus letreiros: “Pedro’s Bar”, “Marcelo’s Cabeleireiro”. E nas palestras ou cursos, quando se diz: às nove horas o “Coffee-Break”, em vez de intervalo para café ou apresentação de um “Case”, em vez de “um caso”. No passado, copiávamos os termos franceses, agora os ingleses. Há dias assistia a uma entrevista com um Promotor Turístico argentino e achei interessante ele falar do seu “sítio eletrônico” em vez do inglês “site”, como usamos.  Na nossa Engenharia Civil e Arquitetura é comum o uso do termo inglês “as built”, equivalente ao termo da Língua Portuguesa “como construído”. Quando os vergalhões de uma edificação de concreto são corroídos por dentro, prefere-se dizer “stress corrosion”. Ora, não que se abomine os termos estrangeiros, principalmente quando eles contribuem para o enriquecimento vocabular da nossa língua, mas quando não somam nada e se traduzem apenas em mero pedantismo, aí devemos usar os nossos termos. Afinal, a Língua Portuguesa possui inesgotáveis recursos para expressar o pensamento e o que ela não expressa, sem dúvida alguma nenhuma outra expressaria. Deve-se ter um apreço pelo idioma nacional, pois é a base da nossa nacionalidade.

É claro que a nossa Língua não é uma invenção nossa. Nós a herdamos dos Portugueses que por sua vez herdaram de outros e, como um amálgama do Grego e do Latim, foi incorporando influências das diversas culturas que aqui aportaram, e continua o seu processo de inevitável transformação. Para Noam Chomsky, lingüista com profundas influências de Saussure, Piaget e Karl Marx, a Gramática erra quando estabelece a simples dicotomia: “certo e errado”, sem considerar que o incorreto hoje, na linguagem escrita,  pode, por uso popular intensivo, vir a ser o correto no futuro. Chomsky, já próximo dos noventa anos, foi um guru das esquerdas brasileiras. Há um mês deve ter perdido esse conceito ao criticar a esquerda brasileira, afirmando que “o PT fracassou porque, ao chegar ao poder, não conseguiu manter as mãos longe da Caixa Registradora…

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