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LUIZ GONZAGA DA SILVA, O NOSSO INESQUECÍVEL PROFESSOR

Adellunar Marge

Machado de Assis dizia que há pessoas que quando nascem não aumentam a população e quando morrem, também não a diminuem. Passam apenas pela existência como acidentes de percurso. Ah… mas existem aqueles que fazem a diferença pelo bem que fazem a uma sociedade. O Prof. Luiz Gonzaga foi um desses e deixou uma profunda saudade no coração daqueles que o conheceram.

Tive o prazer da sua amizade por longo tempo. Na Faculdade Santa Marcelina trabalhamos juntos por quase trinta anos e como aprendi com ele, um ícone da cultura e do conhecimento em nossa região. Os mistérios da existência, o destino final do homem, sempre ocuparam um lugar de destaque em suas preocupações e foram motores para a sua busca incessante. Foi em um desses momentos que o amigo Luiz Gonzaga escreveu duas cartas testamento. Uma para mim, outra para o Prof. Lúcio Gusman. Afinal, formávamos uma tríade de amigos na Faculdade e em nossos lugares cativos no Refeitório daquela instituição, na hora do intervalo entre as aulas, discutíamos os mistérios insolúveis da existência humana. Nunca chegávamos a um acordo, mas a procura jamais cessava em nenhum de nós.

A carta, datada de 03 de maio de 1985, dia em que o Luiz completava 43 anos de idade, guardada em uma gaveta da minha biblioteca, trazia já as páginas e o envelope amarelecidos pelo tempo, mas estava lacrada como a recebi há 33 anos com a assinatura do Luiz em todas as bordas do seu fechamento. Não posso negar que foi com um profundo sentimento de perda e de tristeza que recebi, no início da manhã do dia 28 de setembro último, a notícia do falecimento do grande amigo. Fui a minha biblioteca, retirei o amarelado envelope de dentro da gaveta, contemplei por um tempo suas assinaturas que lacravam as  bordas e o abri. Suas palavras, dirigidas a mim, me dignificaram muito além do meu merecimento, mas as suas recomendações para o adeus ao seu corpo foram precisas e metódicas como tudo que ele fazia em vida.

Agora passo para a proximidade da primeira pessoa e me dirijo a você, amigo. A leitura de uns Salmos e de uma passagem de João seriam missões fáceis se você, amigo Luiz, metódico e exigente como sempre foi, não as quisesse tiradas de uma Bíblia de mil novecentos e guaraná de rolha, traduzida por João Ferreira de Almeida, no início do século passado que , ainda bem, encontramos em sua própria Biblioteca, ou por obra do acaso ou por sua intervenção espiritual, não sei. O certo é que cumprimos as suas determinações. As leituras foram feitas, as flores brancas e amarelas cobriram o seu corpo. Tudo como você pediu. Quanto às lágrimas e o embargo da voz, que você não queria, sinto muito amigo, mas não demos a você o direito de impedi-los.

Veja, Luiz, não foi difícil seguir as suas recomendações. Difícil vai ser suportar a sua ausência. Sei que a saudade vai bater em cada momento em que o recordarmos em cada um dos lugares em que você passava, nas receitas de Tomate Seco e da Torta de Maçã da Dona Nair que você nos passava. Ali você estará, indiscernível. Muriaé, meu querido amigo Luiz,  não vai ser mais a mesma. Falta alguém pelos corredores da Faculdade, falta alguém transitando entre as gentes nos dias de feira. Mas quer saber de uma coisa, já saudoso amigo? A dor da perda vai ser sempre amenizada pelas lembranças que você deixou. Ninguém lembrará da sua morte, mas levaremos sim as lembranças da sua vida, das suas aulas, do seu jeito solícito de lidar com os alunos e os amigos, dos seus passeios semanais pela feira, chamando cada feirante pelo nome, do seu desjejum com os pasteis e churrasquinhos que entupiam as suas coronárias mas arrancavam o sorriso dos feirantes que o serviam.

Ah Luiz…se existe vida depois dessa existência (e torço para que exista), agora você poderá caminhar à vontade sem os incômodos da sua dolorida artrose. Arranje com o Lúcio uma mesinha à sombra, com três lugares e me aguardem. Temos longos papos para colocar em dia. Mas como você sabe, querido Luiz, sempre fui um existencialista incorrigível e valorizo muito a vida por aqui. Por isso, não se espantem se eu demorar ainda um pouco para chegar…

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