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Nem sempre o vinho velho é o melhor…

Desde a antiguidade já se falava da supremacia dos vinhos envelhecidos sobre os vinhos novos. No próprio texto bíblico existe uma passagem em que Lucas afirma que ninguém trocaria o sabor de um vinho velho pelo de um vinho novo. Cícero, o grande jurista e orador romano afirmava, lá pelo ano 50 a.C. que “Os homens são como o vinho, a idade azeda os ruins e melhora os bons”. Na realidade, o envelhecimento pode aperfeiçoar sim alguns vinhos que, por si só, já possuem certos elementos que propiciam a melhoria das suas qualidades organolépticas, ou seja, aquelas qualidades que atuam sobre os sentidos, mais especificamente sobre o olfato e o paladar. Mas não são todos os vinhos que se prestam ao envelhecimento, assim como os cabelos brancos nos seres humanos jamais foram atestado de idoneidade, pois os crápulas também envelhecem.

O hábito de se falar que todo vinho melhora com o envelhecimento, vem da antiguidade, quando o processo de fabricação e armazenamento dos vinhos era bastante rudimentar. Os vinhos daquela época eram péssimos para se tomar quando recém fabricados. Quando “descansavam” por um certo tempo, passavam a ser mais palatáveis. Para se ter uma ideia,  na antiguidade grega ou romana os vinhos eram armazenados em ânforas de barro (enormes jarros) com tampas também de barro vedadas com cera de abelha. Mas foram os romanos que, aprendendo com os gauleses, passaram a usar toneis de Carvalho para o transporte de vinhos e outros gêneros, descobrindo que o vinho melhorava o seu sabor quando guardado naqueles barris. A invenção das garrafas de vidro pelos ingleses e o uso das rolhas de cortiça, que se credita ao monge francês Don Perrignon (o mesmo que inventou o Champagne), seriam conquistas do século XVII.

Com o avanço da tecnologia e o acúmulo de conhecimentos aperfeiçoou-se a fabricação do vinho e o seu armazenamento, além, é claro, dos cruzamentos para obtenção de variados tipos de uvas que, fermentadas sozinhas ou  nos chamados “cortes”, quando são misturadas em diversas proporções com outras uvas, produzem a imensa variedade de vinhos que conhecemos.    A tecnologia atual permite o surgimento de vinhos para serem bebidos pouco tempo após a sua fabricação. Aliás, a maioria dos vinhos que se consome hoje em dia, podem ser guardados no máximo de um a três anos, daí para frente correm o risco de se tornarem piores. Os chamados vinhos fortificados, geralmente doces, como o do Porto, os Madeira e outros congêneres, podem ser guardados em garrafas por tempo indeterminado.

É claro que alguns vinhos tintos de excelência, os chamados vinhos de guarda, podem e devem ser envelhecidos. São vinhos que melhoram a qualidade e atingem o clímax das suas qualidades quando guardados em garrafas por até vinte ou trinta anos. Isso após terem estagiado por um bom período em toneis de carvalho. Esses vinhos, além de aprimorarem a sua qualidade, elevam às alturas o seu preço. Se já eram caros quando jovens, imaginem o seu preço quando envelhecidos.

Na cidade do Porto, em Portugal, hospedei-me certa vez no “Grande Hotel do Porto”, um dos mais antigos da cidade, que ostenta uma placa de bronze em sua entrada que registra a visita do deposto Imperador brasileiro, Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina, em dezembro de 1889. Na vitrine da sua sala de refeições, deparei-me com alguns desses vinhos com mais de trinta ou quarenta anos de garrafa,  expostos para venda. Olhei, contemplei e imaginei o sabor daqueles vinhos. Apenas os contemplei imaginando o seu sabor, porque por mais que eu quisesse degustá-los, eles não caberiam no meu bolso. Esse é o grande defeito das roupas com bolso pequeno…

 

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