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O histórico Café Lamas

Fundado em 1874, o Café Lamas completa neste ano de 2017, 143 anos de história. E que história! Nasceu com o nome de “Café e Bilhares Central”, mas logo foi chamado de Café Lamas, pois Constantino Lamas era o nome do português bigodudo e de proeminente barriga que o fundou. O Café Lamas sempre possuiu características próprias que o distinguia dos demais bares da cidade. Tinha a fama de não fechar nunca as suas portas e de servir, pelas madrugadas, o seu famoso bife com batatas fritas, o mais saboroso da cidade.

O primeiro endereço do Café Lamas foi no Largo do Machado, e foi ali que surgiu o famoso jogo chamado “Batalha Naval”, em que os oponentes tinham à mão uma folha dupla de papel quadriculado onde eram desenhados, nos quadrinhos, os couraçados, torpedeiros, cruzadores porta-aviões e submarinos. As margens horizontais e verticais possuíam letras e números que cada oponente dizia. Se no cruzamento dos números com as letras houvesse uma embarcação, ela ia sendo destruída. Ganhava o jogo quem destruísse a frota inimiga primeiro.

No Lamas, reunia-se a nata da intelectualidade carioca e as expressões políticas da época, misturados aos frequentadores comuns, esses, mais assíduos e fiéis ao estilo do Lamas. Pelas mesas do famoso bar passaram, ao longo dos anos, figuras como Getúlio Vargas, Di Cavalcante, Lamartine Babo, Rubem Braga, Carlos Lacerda, Afrânio de Mello Franco, Lyra Tavares e tantos outros ilustres frequentadores.

Nos fundos do Lamas, as mesas de bilhar e uma porta de emergência que dava acesso a um açougue ao lado, por onde muitos fugiam da polícia, principalmente nas épocas cinzentas da polícia de Felinto Müller, na era getulista.

Frequentar o Café Lamas era o sonho de todos os jovens. Manoel Bandeira, um ícone da poesia brasileira, disse em uma de suas crônicas: “Quando vinha de Laranjeiras para o ginásio, espiava para o Lamas à espera da hora de ser rapaz, ter a chave da casa, não dar satisfações, jogar bilhar, espetar contas… mas a vida se encarregou de escamotear-me tudo isso e outras coisas…”.

Em 1976, as obras do metrô, que modernizaram o Rio, expulsou o Café Lamas do Largo do Machado e ele se mudou para a Rua Marquês de Abrantes, onde se encontra até hoje. Perdeu muito do seu antigo charme e, modificado também em seu estilo, não guarda mais a magia dos tempos do Largo do Machado.

Eu o conheci no seu antigo e primordial endereço, ainda como templo da boemia carioca, mas o visitei muitas vezes já na Marquês de Abrantes. Não sei se a saudade maior é do Café Lamas ou dos meus 20 e poucos anos, quando por lá vivia.

Há um mês estive no Lamas para reviver lembranças. É claro que não guarda mais a antiga magia dos tempos do Largo do Machado, mas o seu bife fatiado, sua batata portuguesa em lâminas finíssimas e crocantes ainda acompanham o melhor chopp Brahma da cidade, principalmente o escuro. Fiquei ali com a minha família por horas, sorvendo aquele néctar negro de cevada, entre um estalar e outro das crocantes batatas portuguesas. Alguma coisa o Lamas ainda guarda dos velhos e bons tempos.

E ainda tem gente que acha que para ir para o céu é preciso morrer…

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