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O quarto poder

Francisco Laviola – 01/11/2017

Um dia desses, parafraseando Jorge Bem Jor, escrevi aqui neste espaço que o Brasil é “um país tropical e abençoado por Deus”, e, portanto, livre de catástrofes provocadas por furacões e terremotos, como aqueles que assolaram o México, as Ilhas Virgens e o estado da Flórida, nos Estados Unidos. Se até o momento nós podemos nos vangloriar dessa relativa tranquilidade que o Criador nos possibilitou, guardadas as devidas proporções, o mesmo não podemos fazer em relação à política e aos políticos.

Passado todo aquele “frisson” das votações no Supremo Tribunal Federal, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, com relação à manutenção dos mandatos do presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves, aos olhos dos menos avisados, parece que o país voltou à calmaria. Toda aquela polêmica na qual embarcou a imprensa nacional e até a internacional, com a expectativas de prosseguimento de processos criminais e de perdas de mandatos não deu em absolutamente nada. Como diria o conterrâneo “Nerso da Capintinga”: a expectativa criada “mooorreu”. De nada adiantou a histeria da atual oposição, que viu, no caso, uma possibilidade de tentar virar o jogo. É bom lembrar que essa oposição que está aí, vociferando e esbravejando contra golpes e outras coisa mais, está fazendo apenas um jogo para a platéia radical petista, até porque, ela não tem nenhuma moral para cobrar coisa alguma. Enquanto estiveram no poder, roubaram a Petrobrás, assaltaram os Fundos de Pensão, cooptaram e foram sócios do Temer. O que houve, foi apenas uma inversão de papeis no Poder Central, depois do impeachment da Dilma Rousseff. Quem era situação virou oposição e vice-versa. Mudaram-se apenas os artistas, mas o circo que fica instalado debaixo daquelas duas “bacias” de Brasília – que me perdoe o Oscar Niemeyer – uma côncava e a outra convexa continua a todo vapor com os seu espetáculos de ópera buffa. Seria cômico se não fosse trágico. Tudo que se passa ali, com raríssimas exceções, é fisiologismo, pragmatismo e corporativismo. São os “ismos” que arrebentam com o país.

Agora, se o leitor acha que a tempestade passou e que a aparente calmaria vai dar tranquilidade ao país, engana-se redondamente. A fragilidade do presidente diante de um Congresso manipulador, empurra pela garganta dos brasileiros um “parlamentarismo” paralelo e falsificado, cujas decisões são tomadas na calada da noite, nos subterrâneos dos Poderes de Brasília. O próximo alvo? Estancar a sangria provocada pela Operação Lava-Jato.

Como grande parte dos atuais senadores e deputados são investigados pela Polícia Federal ou já são réus no STF, estão sendo gestados no útero deste “poder paralelo” vários projetos: Um que impede a delação premiada de réus já presos; outro que restringe a investigação criminal contra advogados que utilizam a magnífica profissão para serem parceiros e não defensores; e ainda mais um, que define como crime os eventuais excessos cometidos por autoridades no exercício de suas funções, chamados de abuso de autoridade. Se todos esses projetos forem aprovados na forma como estão postos, além do foro privilegiado já existente, os nossos mandatários terão mais uma blindagem contra os processos de corrupção.

Como começamos essa crônica abordando a força catastrófica de furacões e terremotos, guardadas as devidas proporções, lá nos subterrâneos deste poder paralelo está sendo formado um verdadeiro hipocentro, que a população só vai perceber quando todos os poderes da Lava-Jato forem retirados. E para isso, contribuiu, de forma determinante, o Supremo Tribunal Federal, quando transferiu para o Congresso a prerrogativa de dar a palavra final sobre a aplicação de medidas cautelares contra deputados e senadores. Ao safar o senador Aécio Neves de perder o mandato, o STF avalizou o fortalecimento de um quarto poder, representado pelo pragmatismo, negociatas, fisiologismo, cooptação.

O epicentro deste furacão de mazelas se encontra arraigado nos poderes Legislativo, Executivo e até no Judiciário. Com a antevisão de sua proximidade, o vendaval de malfeitos fere mais uma vez a democracia e fortalece o establishment, varrendo do mapa do país a ordem social, política e econômica. O “poder” paralelo das negociatas passou a ser o quarto poder da República Federativa do Brasil.

 

 

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