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Os cínicos

O cinismo, no seu significado mais conhecido no senso comum, refere-se ao comportamento daquela pessoa que revela em suas ações e modos de ser, descaso pelas convenções sociais e pela moral vigente; falta de pudor, descaramento, que são atitudes e comportamentos muito comuns à sociedade dos humanos desde tempos imemoriais. O cinismo que presenciamos hoje em muitas pessoas já existia há dezenas de séculos, nas mais antigas civilizações. A origem do seu nome vem de uma corrente filosófica chamada justamente Cinismo, fundada por Antístenes de Atenas, que viveu nos anos 444 – 365 a.C.

Antístenes foi um dos discípulos de Sócrates que acabou abandonando para fundar a sua própria Escola. Em sua doutrina pregava que a felicidade deveria ser alcançada através de uma vida simples, ligada à natureza e orientada por um completo desprezo pelos apegos a riquezas, aos confortos pessoais e a certos tipos de pudores que, para ele, eram apenas fruto de convenções criadas pelos homens. Os Cínicos usavam a vida dos cães como modelo prático dessas virtudes.

Embora Antístenes tenha sido o fundador dessa Escola Filosófica, o seu expoente mais conhecido foi sem dúvida o filósofo Diógenes de Sínope, que viveu de 413 a 327 a.C.

Diógenes é mais conhecido pelas histórias contadas sobre sua vida, algumas recheadas de fantasia e que passaram ao campo das anedotas.

Segundo a lenda que se conta sobre ele, Diógenes foi se desapegando de coisas pessoais até abrir mão dos utensílios domésticos, ficando só com uma cuia para beber água. Depois, concluindo que poderia beber a água das bicas com as mãos em concha, jogou a cuia fora. Depois, abriu mão de suas vestes e passou a morar quase nu em um barril para demonstrar seu desapego pelas coisas materiais. Um dia, diz também uma história a seu respeito, quando ele estava sentado em uma calçada de Atenas, parou diante dele o governante e grande conquistador de Impérios, Alexandre Magno. O grande General macedônio dirigindo-se a Diógenes perguntou o que poderia fazer por ele. Diógenes, olhando-o fixamente respondeu:

– Saindo da minha frente para não obstruir a luz do sol, pois não deves tirar de mim aquilo que não podes dar-me !

Os guardas que acompanhavam Alexandre Magno, indignados com o procedimento de Diógenes quiseram repreendê-lo, mas Alexandre impediu-os dizendo que se ele não fosse Alexandre Magno queria ser o Diógenes.

De outra vez, Diógenes foi surpreendido percorrendo as ruas de Atenas durante o dia com uma lamparina acesa. Perguntado sobre o motivo, ele afirmou que estava procurando um homem honesto naquela cidade e, posteriormente foi visto pedindo esmola a uma estátua. Dessa vez disse que fazia aquilo para se acostumar com a insensibilidade humana que não se comove com as necessidades alheias.

Apesar de todos os seus excessos, a Escola Cínica pregava um comportamento ético independente da moral vigente nas sociedades, pois acreditavam que tal tipo de moral se preocupava mais em cristalizar tabus do que zelar por coisas que poderiam fazer os homens felizes.

Passados muitos séculos, o mundo parece ainda sofrer dos mesmos males e os seres humanos padecem ainda das mesmas atribulações. Quanto à honestidade dos homens em sua vida social, resguardando raríssimas exceções, talvez continuasse difícil para Diógenes, (se ele aqui estivesse) encontrar um homem honesto, ainda que o procurasse à luz do dia, munido, não mais de uma lamparina de azeite acesa como ele fez, mas de uma potente lanterna a LED. Por certo ele sofreria um infarto se tivesse notícia do “Mensalão” praticado em nosso amado Brasil e de quantos da quadrilha que ainda estão soltos, embora a liderança maior já esteja na cadeia…

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