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Os Manuscritos do Mar Morto

Se os manuscritos do Mar Morto não tivessem outra utilidade, já valeriam como um excelente material histórico para pesquisa. Um conjunto apreciável de informações encontramos no livro “Os Manuscritos do Mar Morto”, de Edmund Wilson, editado aqui no Brasil pela Companhia das Letras. Leio e releio aquelas páginas e a cada vez novas releituras surgem e novos horizontes se abrem para se entender melhor as raízes da religião hebraica e a formação da cristandade.

Os primeiros manuscritos foram encontrados em 1947, justamente numa época de grande enfrentamento bélico entre os árabes e os judeus. Foi em meio a intensos combates que alguns abnegados pesquisadores se debruçavam sobre aqueles fragmentos de pergaminho e coletavam dados importantíssimos para o entendimento da história ético-religiosa dos povos daquela região.

Os pergaminhos foram encontrados no interior de cavernas em altos penhascos e de difícil acesso, na região de “Qumram”. Em meados do ano de 1947 o jovem beduíno Mohammed, apelidado de “Lobo”, cuidava de suas cabras quando teve que subir a um alto penhasco para recuperar um dos animais que se afastara do rebanho. Foi aí que se deparou com uma imensa caverna. Dias depois voltou ali com outro menino e descobriram enormes vasos de argila repletos de pergaminhos enrolados em linho. A partir daí beduínos contrabandistas pegavam os pergaminhos em pequenas quantidades e os vendiam a comerciantes de Jerusalém ou da Jordânia. Foi muito difícil, numa zona de guerra como aquela o acesso de pesquisadores de Universidades da região e da Europa àquele precioso material. Os primeiros pesquisadores de renome procurados para examinarem os pergaminhos eram talvez os mais importantes e competentes arqueólogos naquela região: o Dr. Lankester Harding, do Departamento de Antiguidades da Transjordânia e o padre Roland de Vaux, da “École Biblique” mas a maior dificuldade era imposta, sem dúvida alguma, pelas esferas de poder das religiões judaicas  e cristã que, mesmo não conhecendo o conteúdo dos pergaminhos preferiam desacreditá-los, negando-lhes autenticidade.

Além de rolos inteiros de pergaminhos em excelente estado de conservação, havia também os fragmentos, pois os beduínos para conseguirem mais dinheiro costumavam quebrar alguns pergaminhos ressecados e vender punhados de fragmentos de cada vez, que a duras penas eram juntados um ao outro pelos pesquisadores para permitir a leitura.

Hoje, com a maior parte já traduzida e analisada, os Manuscritos do Mar Morto continuam criando novas expectativas para se desvendar o papel importantíssimo dos Essênios na gênese hebraico-cristã. Os Essênios, os Fariseus e os Saduceus eram as vertentes mais importantes da religiosidade judaica e os manuscritos trazem à luz o papel dos Essênios e sua incontestável influência, principalmente pelas rígidas normas morais e hábitos de convivência estabelecidos em seu grupo.

A pesquisa, livre e sem preconceito, é um instrumento formidável para a construção do conhecimento. Os Manuscritos encontrados nas cavernas de Qumram sofreram grandes objeções para serem trazidos a público, mas o mundo modernizou-se e é muito difícil manter a escuridão das trevas onde a luz do conhecimento teima em brilhar.

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