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Que o sapateiro não passe além do sapato

Dizem que um dia um pintor colocou em uma Galeria de Arte um dos seus quadros. Era o retrato de um homem sentado à porta de uma casa com uma das pernas cruzada sobre a outra. Um sapateiro, que visitava a galeria, observou atentamente o quadro em exposição e depois de muito observar e meditar, virou-se para o pintor autor da obra, que estava ao lado e disse:

– Esse quadro contém um erro! Olhe só o salto do sapato, ele está gasto na parte da frente, ora, o salto gasta de trás para a frente quando se pisa e este está mostrando o desgaste ao contrário!

O pintor, atento à observação do sapateiro, concordou com ele e, imediatamente, de posse do seu pincel e tintas, corrigiu o erro. O sapateiro, cheio de si, olhou orgulhoso para os demais expectadores e para a sua família que o acompanhava e disse ao pintor:

– Observando bem, a gente pode notar que há um problema também com a pintura dos braços!

O pintor, guardando os seus instrumentos de pintura, olhou severamente para o sapateiro e disse:

– Agradeço a sua primeira observação mas que o sapateiro não passe além do sapato!

Assim são aquelas pessoas (e são muitas nesse mundão de gente) que opinam sobre assuntos dos quais não têm o mínimo conhecimento. E falam ostentando uma autoridade que não têm sobre aquilo que falam e justamente por isso caem no ridículo.

Nos últimos dias de abril deste ano, o Lula, da cela onde está preso, concedeu uma entrevista aos jornais “El País” e “Folha de São Paulo” e durante a tal entrevista o Lula fez uma crítica depreciativa ao escritor Euclides da Cunha e a sua obra “Os Sertões”. Lula afirmou que um canal, chamado Paz e Bem, tem um curso recontando as histórias e mostrando as mentiras que Euclides da Cunha contou sobre Canudos e que ele, Lula, havia feito um “curso de oito aulas” naquele tal canal. Imaginem que conhecimento o Lula deve ter adquirido naquelas oito aulas para se transformar em crítico literário e doutor em Euclides da Cunha. A História pode e deve mesmo ser vista sob vários ângulos para que possamos nos aproximar ao máximo da verdade. Mas isso demanda pesquisa e análise crítica apurada, isenta de ideologias e pautada unicamente nos métodos científicos da historiografia. Um pré-requisito que Lula não possui.

O problema é que papel, microfone e agora também a internet, aceitam tudo. Não existe limites não só para o conhecimento, mas também para a imbecilidade.

É óbvio que uma linha de esquerda tentou transformar o Antônio Conselheiro, da Campanha de Canudos, em revolucionário, tentando arrancar-lhe a pecha de “Fanático Religioso”, como era conhecido. Mas isso foi mais fruto da linha esquerdizante das nossas Universidades Públicas. A mesma linha que elogiou terroristas e assaltantes de Bancos do passado tentando transformá-los em defensores da Democracia. Mas isso é outra história…

Já romantizaram também a trajetória de assaltos e mortes do Virgulino, o Lampião, tentando transformá-lo em herói, atendendo a uma conveniência ideológica. É por isso que muitos professores de História, ideologizados pelas linhas das Universidades Públicas, demonizam Tiradentes como estando a serviço das “elites”, tentando tirar-lhe o mérito de herói nacional. Mas há alguns anos muitos desses professores se deslocaram até às Capitais para comemorarem o centenário do herói (?) cubano José Martí.

A sorte é que Euclides da Cunha está anos luz acima da opinião de um Lula que, como o sapateiro da história, quis ir além do seu conhecimento sobre sapato e se aventurar como crítico de Artes Plásticas. O Lula, como sempre, perde as oportunidades de ficar calado. Deveria falar sobre os assuntos que domina, afinal, qualquer pessoa tem algum tipo de conhecimento em que é autoridade. Uma antiga lavadeira em minha casa, mesmo a despeito da sua precária instrução,  sabia se iria chover melhor do que qualquer serviço de meteorologia. Quando não se domina um assunto é melhor seguir o sábio ditado: “o silêncio é de ouro”.

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