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Votar para presidente, uma tarefa difícil.

Recebi a minha carteira da OAB pelas mãos do saudoso Dr. Hélio Tostes, na época, presidente da 36ª Subseção da Ordem em Muriaé. Isto foi no início dos anos 80. Ao prestar o compromisso, tive que sujar o polegar para apor as minhas digitais no documento. Como consequência, fiquei com o dedo impregnado pela tinta preta olhando meio constrangido e sem saber o que fazer. Coisas de iniciante, diante uma pequena platéia de pessoas importantes. Percebendo que eu estava meio indeciso e sem saber que fazer, o doutor Hélio, que era um tremendo gozador, tirou sorridente do bolso do seu impecável paletó um lenço branco, bem dobrado, e me ofereceu para que eu pudesse limpar o meu polegar, até porque, em seguida, eu teria que assinar o documento. Claro que eu não aceitei a gentileza e saí a cata de um papel qualquer para fazê-lo. Para amenizar o constrangimento, eu disse para ele: nunca votei para presidente, agora posso votar, nem que seja para eleger o presidente da OAB. Saí feliz com a minha carteirinha vermelha na mão, assinada pelo Dr. Marcelo Leonardo, hoje advogado do Marcos Valério, e, por coincidência, do Aécio Neves também.

Contei esta história, por que aos 28 anos, eu ainda não tinha votado em nenhuma eleição para o cargo de presidente do meu país. Na Presidência estava o general João Batista de Figueiredo, que tinha prometido, em seu discurso, “uma mão estendida” e “jurado fazer deste país uma democracia”. A pressão popular era grande e logo em seguida foi concedida a anistia aos políticos cassados pelos Atos Institucionais, autorizado o retorno dos exilados políticos e extinto o bi-partidarismo, que tinha naquela época, apenas a Arena, partido do governo e o MDB, que fazia oposição. A eleição que se seguiu foi indireta, tendo Tancredo Neves vencido, através do voto do Congresso Nacional, o polêmico Paulo Maluf, que era o candidato dos militares. Saindo da “ressaca” da Ditadura Militar, a eleição direta só aconteceu em 1989, em virtude da nova Constituição, concorrendo 22 candidatos no primeiro turno, entre eles, Collor, Lula, Brizola, Mário Covas, Guilherme Afif, Roberto Freire, Fernando Gabeira, e até o Enéas.  No primeiro turno, já com 37 anos, escolhi o Afif, e no segundo, disputado por Lula e Collor, votei no “Caçador de Marajás”. Aí foi a minha primeira decepção.  O “caçador de marajás” virou caça, e assim, foi cassado por corrupção. Depois, votei duas vezes em FHC. Nesse caso, acho que acertei. Embora criticado pelas privatizações feitas em seu governo, FHC e suas equipe foram os autores do melhor plano de estabilização que o país já experimentou.

A partir daí, vieram as eleições petistas. Em 2002, foram para o segundo turno: Lula e José Serra; votei no Serra do PSDB, pensando na continuidade do programa do FHC. Resultado: Venceu o Lula, com as suas propostas de tirar o Brasil da miséria e os seus programas sociais. Em 2006, foram para o segundo turno Lula e Geraldo Alckmin (PSDB). Por se tratar de um candidato muito fraco nacionalmente, votei no Lula. Outro erro. Neste mandato do Lula, explodiu o mensalão, que tinha começado a ser gestado na última fase do seu primeiro governo. Nas eleições que se seguiram, 2010 e 2016, voltei os olhos novamente para o PSDB. Em 20l0, voltei depositar meu voto no Serra, porque não enxergava na Dilma capacidade para conduzir o país. Era na verdade um poste, como a imprensa a denominava. Além disso, naquele momento, eu já tinha a convicção de que Lula não era “o cara”, como dissera Obama certa vez, mas o “cara de pau”, por questões mais do que sabidas pelo povo brasileiro. E assim, votei no Aécio.  Se eu pudesse dizer, diria agora, com a devida vênia: p.q.p., errei de novo. O homem está enclausurado em casa, em vias de perder o mandato de senador, acusado de pedir R$ 2.000.000 de propina ao Joesley Batista, da JBS, além de tentar obstruir a Justiça. Se bem que justiça seja feita ao Aécio. Se o STF for tirar o mandato de todos os políticos por obstrução da Justiça, vai ficar muito porca gente no poder em Brasília. E Raquel Dodge, com aquela voz meiga e o Sérgio Moro, com aquela voz de “mamãe eu tô com sono” que se cuidem, pois ainda virão muitas trapalhadas por aí.

O certo é que, se eu pudesse adivinhar que ia ter tanta gente assim querendo arrebentar com a nossa democracia, e que o Brasil teria as suas Instituições sucateadas pelos representantes do povo, não teria lamentado tanto com o doutor Hélio Tostes por não saber, naquela época, já aos 28 anos, o que era dar um voto para presidente da República. Está chegando o ano de 2018, ano de eleições gerais. E você, aposta em quem?

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