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A OPÇÃO POR NÃO SER UM ESTADISTA

     Adellunar Marge

                O poder não corrompe. Quando um poderoso é corrupto, é porque já traz dentro de si o germe da desonestidade. O poder apenas catalisa essa tendência, fazendo-a brotar de dentro do indivíduo e refletir-se em suas ações.

Lula tinha quase tudo para ser um verdadeiro político e um estadista. Surgiu nas bases, através de um sindicato de trabalhadores, transformou-se em um grande negociador para as conquistas trabalhistas e construiu, entre aqueles que liderava, o respeito e a admiração. Poucos lograram tal êxito. A pouca instrução escolar não o impediu de dominar a arte e a técnica da oratória conquistando adeptos a despeito da marca inconfundível da sua voz rouca e da sua língua presa, que jamais o impediram de “soltar” o seu pensamento e comover seus adeptos.

Rompeu barreiras e preconceitos e soube, na hora certa, adequar-se aos anseios do empresariado, ainda que capitalista, e chegar ao inimaginável cargo de Presidente da maior República da América Latina. Fez isso pelas vias da esquerda, uma linha de pensamento que já agonizava na Europa e conseguia lograr êxito apenas nos regimes autoritários que vicejavam no sul de uma América Latina castigada pela miséria e pela pobreza. Transformou-se em um líder populista e paternalista, tentando igualar-se ao Getúlio de tempos idos.

Lula tinha sim quase tudo para ser um estadista, mas o poder catalisou e potencializou aquele germe da desonestidade que já trazia latente dentro de si. O dinheiro farto das Estatais, a cobiça e tentação dos grandes empreiteiros somados ao exemplo de uma casta política de práticas perniciosas seculares abriram caminho para os mensalões, as licitações viciosas e o “saqueamento” das Estatais, principalmente a Petrobrás, aonde o rombo chegou à astronômica soma de mais de seis bilhões, repartidos entre políticos, partidos e empreiteiros. Era preciso estancar essa sangria e algumas vozes se fizeram ouvir a favor de uma cruzada de moralização. A “Operação Lava Jato” entrou como um trator no minado terreno político e empresarial. Procuradores, Ministério Público e competentes Juízes, principalmente federais, abriram centenas de investigações e processos e foram pondo à mostra a podridão nacional. Lula perdeu mais uma oportunidade de fazer-se um estadista, preferindo insistir na desgastada tecla de que “não sabia de nada”, embora nomeasse para os postos chaves das Estatais, todos os corruptos que a “operação Lava Jato” ia desmascarando, processando e prendendo, ainda que as brechas das nossas leis propiciassem aos advogados colocar de volta à liberdade grande parte dos acusados.

Fragilizado com as denúncias, que caíam em sua maior parte sobre seu grupo político ou sobre os partidos que o apoiavam, Lula preferia negar o conhecimento dos fatos e acusar juízes, procuradores e Cortes de Justiça, de perseguição política. Era a tática ineficiente da vitimização, pois a maioria absoluta da população saía às ruas pedindo o fim da corrupção e a punição dos corruptos.

Lula perdeu o bonde da história para adquirir a estatura de um verdadeiro governante. Não acreditou que um simples Juiz de Primeira Instância ou um Tribunal de Desembargadores de Segunda Instância pudessem processá-lo e condená-lo. Foi uma pena para a nossa história, pois não creio que seja prazeroso comemorar a prisão de Lula. Mais do que isso, lamentamos a sua condenação e prisão pois temos consciência de que Lula percorreu um longo caminho de lutas e conquistas na política. Um imigrante nordestino, pobre e combativo, que se fez conhecido no Brasil e no mundo.

Certa vez, quando almoçava em um restaurante próximo à Torre Eiffel, o dono do restaurante se aproximou de mim e disse: são do Brasil, do “Président Lulá”? Mesmo não sendo petista e nem simpatizando com regimes de esquerda, tive uma ponta de orgulho em saber que o presidente do meu país era tão conhecido no exterior, mas Lula trazia dentro de si aquele contagiante germe e abriu mão de ser lembrado como um Chefe de Estado para entrar na história como um condenado a doze anos por corrupção e lavagem de dinheiro. Uma pena para o nosso país.

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