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A questão da internação compulsória

Li certa vez uma crônica do inteligentíssimo João Ubaldo Ribeiro, escritor baiano falecido em 2014, que começou escrevendo mais ou menos assim: “vou escrever sobre um assunto que já escrevi aqui, na esperança de que o leitor não tenha lido, e, se por um acaso o leu, fico na torcida de que não se aborreça comigo por voltar ao mesmo assunto”.

Eu digo mais ou menos, porque não me lembro de toda a frase escrita pelo grande escritor baiano, que falava sempre da simplicidade por ele vivida na ilha de Itaparica, na Bahia de Todos os Santos.  Portanto, fica gravada aqui uma confissão de meio plágio, do qual, de antemão, já peço desculpas ao leitor. Claro que o escritor baiano nada tem a ver com o que vem a seguir, mas é sempre boa a lembrança de alguém tão importante da nossa literatura.

Dito isto, só para explicar o “repeteco”, volto ao assunto das drogas por entender que o vício e a dependência química, com as proporções que vêm tomando em todas as cidades brasileiras e até nos meios rurais, é uma questão de saúde e não mais uma questão somente de segurança pública.

O uso de drogas, como o crack, por exemplo, que tem uma ação devastadora no organismo do usuário, já não é mais um “privilégio” das chamadas “cracolândias”. O vício vem se interiorizando como uma verdadeira epidemia e requer uma junção de esforços entre estados, municípios, União e de todas as entidades como as ONGs, associações e clubes de serviços, no sentido de buscar alternativas que possam impedir a proliferação desse verdadeiro câncer que vem massacrando a sociedade brasileira.

Muito tem se falado em ações emergenciais, como a internação compulsória – questão levantada recentemente pelo presidente Bolsonaro e encampada pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel – para aqueles dependentes, cujo estágio de convivência com as drogas em que se encontram, já não conseguem se livrar dela por conta própria, em função da dependência e também do comprometimento psíquico do organismo, que os leva a um caminho sem volta de degradação física e moral.

A internação compulsória é polêmica e a entendo como um último recurso, depois de esgotados todos os meios para a realização do tratamento voluntário, podendo ser uma providência a ser tomada por um tempo determinado, para que seja realizado um tratamento de desintoxicação do organismo do dependente já comprometido pelo uso da droga.

Entretanto, de nada adiantará a internação compulsória, se o paciente não tiver por detrás dele uma estrutura familiar capaz de fazer o seu acolhimento na sua volta. Para que se atinja esse objetivo, é preciso que os familiares dos pacientes sejam orientados também com instruções e palestras, feitas por psicólogos e outros profissionais da área, visando à busca dos suportes necessários, quando da sua volta ao seio familiar.

Com esse cenário devastador, a sociedade precisa se mobilizar para cobrar dos poderes públicos a sua cota de investimentos em serviços de urgência e emergência no atendimento apropriado para viciados, pois a situação requer medidas práticas inadiáveis e sem mais retóricas, sob pena de o problema tomar contornos de uma epidemia sem controle.

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