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As exposições da Avenida Constantino Pinto

Há muito tempo, lá pela distante década de 50, o recinto da nossa Exposição Agropecuária era naquele terreno às margens do rio, onde se ergue hoje o nosso Terminal Rodoviário.

Durante o ano todo, aquele local era praticamente esquecido pelo povo. Máquinas ambulantes de limpar café, assentadas sobre caminhões e movidas por longas correias atreladas aos pneus, usavam aquele sítio, num período próspero de produção e de comércio cafeeiro, para limpar o café, deixando sobre o local montanhas de palha que se transformavam em poderoso adubo para as propriedades rurais. A indústria ainda era atividade incipiente em nosso município e na região, que tinham na agricultura e na pecuária a sua base econômica. Mas, quando vinha setembro, a cidade se engalanava para a grande semana de festas. Era a famosa Exposição Agropecuária de Muriaé, conhecida e visitada por moradores de toda a região.

Os produtos expostos, com raras exceções, pouco refletiam a pujança da produção. Preocupava-se mais em colocar em exposição aquela abóbora de 20 quilos ou mais, aquele imenso cacho de bananas ou aquela raiz de mandioca de “metro e meio” de comprimento, que eram frutos mais do acaso do que de alguma técnica utilizada na produção. Mas, o que interessava mesmo ao povo, era a festa. Povo e festa é a combinação mais perfeita existente no mundo.

O Parque de Diversões, com as “sombrinhas” girando perigosamente, as “canoas” naquele ir-e-vir constante, os cavalinhos do carrossel que eram a alegria das crianças e os stands de tiro ao alvo, com espingardas de ar comprimido de mira desregulada que dificultavam ao máximo o acerto ao alvo, faziam o espetáculo daquele povo ávido de diversão.

Logo na entrada do recinto, à direita, um imenso espaço coberto onde se expunham os produtos que o povo, em fila, via e revia todos os anos em monótona procissão. Mais adiante, o imenso “salão de bailes” onde conjuntos da região ou contratados de fora animavam a noite. Mais adiante ainda, um imenso espaço para o povo e um palco improvisado para os shows. Ao fundo, as baias com os cavalos e éguas de raça que, com certeza, nem se aproximavam da qualidade dos mangalargas de hoje, com estirpe apurada em laboratório e fecundação artificial dentro das mais modernas técnicas de fertilização. Mas tudo era festa.

Na realidade, proporcional ao tamanho da festa, as exposições não cumpriam o papel de promoção de negócios, como deveria ser.  Pelo menos de negócios ligados à agricultura, à pecuária e à indústria locais. Cumpriam mais um papel social, ao oferecer ao povo a oportunidade de assistir a shows a que raramente teria oportunidade de assistir fora de nossa cidade. Mas era uma semana memorável…

O bom eram os “flirts”. “Flirt” é uma palavra de origem inglesa que se instalou entre nós e traz o significado primitivo de divertir-se com ou namoricar. Acabou se referindo àquele olhar “olhos nos olhos”, demonstrando interesse entre as partes. Era o sinal verde para o rapaz se aproximar da moça e iniciar a conversa. As moças andavam sempre de braços dados umas com as outras. Era o costume da época. Mas quando o rapaz se aproximava, após o sinal verde do “flirt”, a escolhida se separava das amigas e caminhava ao lado do rapaz até o final da noite, que não passava das 21h30min, quando “moça de família” juntava-se às amigas e voltava para casa. Iniciava-se ali o namoro que poderia continuar depois dos dias da festa da exposição ou terminar como apenas uma chuva de verão. Não ouso dizer que eram tempos melhores ou piores, pois cada tempo tem os seus encantos e os seus desencantos. O segredo é saber aproveitar em cada fase da vida os encantos e contornar os desencantos. O resto, a existência nos dá por acréscimo…

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