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Exéquias de um espírita

Desconstruir a morte! Tal uma das maiores proezas do Espiritismo!

“A morte não significa mais que veículo para os horizontes sem-fim da verdadeira vida”. – Joanna de Ângelis

Por ocasião do sepultamento do Sr. Nant, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec fez a seguinte alocução: “senhores e caros colegas da Sociedade de Paris, e todos vós irmãos em crenças aqui presentes!…

A partida do Sr. Nant para aqui nos conduziu hoje. Vem ele de tornar à terra seu despojo mortal para revestir o brilhante envoltório dos Espíritos. Viemos, segundo a expressão consagrada, dizer-lhe um último adeus? Não, porque sabemos que a morte não é tão somente a entrada da verdadeira vida, mas uma separação corpórea de alguns instantes, e que o vazio que ela deixa no seio da família não é senão aparente.

Ó doce e santa crença que nos mostra, sem cessar, ao nosso lado os seres que nos são caros! Fosse ela uma ilusão, seria preciso bendizê-la, porque enche o coração de uma inefável consolação! Mas não, não é uma vã esperança, é uma realidade que, cada dia, atestam as relações que se estabelecem entre os mortos e os vivos segundo a carne. Bendita seja, pois, a ciência que nos mostra o túmulo como o umbral da libertação e nos ensina a considerar a morte face a face e sem terror!

Oh, meus irmãos! Lamentemos aqueles que o véu da incredulidade cega ainda; é para eles que a morte tem apreensões terríveis! Para os sobreviventes é mais do que uma separação, é, para todo o sempre, a destruição dos seres mais caros; para aquele que vê se aproximar a última hora é o abismo do nada que se abre diante dele! Pensamento horrível, que legitima as angústias e os desesperos…

Que diferença para aquele que, não só crê na Vida Futura, mas que a compreende, que se identifica com ela! Não caminha mais com ansiedade para o desconhecido, mas com confiança para a nova carreira que se abre diante dele; já a entrevê, e conta – com sangue frio – os minutos que dela o separa ainda, como o viajor que se aproxima do fim de seu caminho, e sabe que, em sua chegada, vai encontrar o repouso e receber os abraços de seus amigos.

Tal foi o Sr. Nant! Sua vida tinha sido a do homem de bem por excelência; sua morte foi a do justo e do verdadeiro Espírita. Sua fé nos ensinos de nossa Doutrina era sincera e esclarecida; hauriu imensas consolações durante sua vida, a resignação nos sofrimentos que lhe deram fim, e uma calma radiosa em seus últimos instantes. Forneceu-nos um tocante exemplo da morte consciente; seguiu com lucidez os progressos da separação, que se operou sem abalos, e quando sentiu quebrar-se o último laço, bendisse os assistentes; depois, tomando as mãos de sua neta, criança de dez anos, pousou-a sobre seus olhos para ela mesma fechá-los.  Alguns segundos mais tarde dava o último suspiro, exclamando: Ah! Eu o vejo!

Nesse momento, seu neto, tomado de uma grande emoção, foi subitamente adormecido pelos Espíritos; em seu êxtase, ele viu a alma de seu avô, acompanhada de uma multidão de outros Espíritos, se elevar no espaço, mas presa ainda ao envoltório corpóreo pelo laço fluídico… Assim, à medida que se fechava sobre ele as portas da vida terrestre, se abriam diante dele as do mundo espiritual, do qual entrevia os esplendores.

Ó sublime e tocante espetáculo! Que não tinha por testemunhas aqueles que zombam nesta hora da ciência que nos revela tão consoladores mistérios! Tê-la-iam saudado com respeito em lugar de achincalhá-la. Se lhe lançam a ironia e a injúria, perdoamo-los: é que não a conhecem, e que vão procurá-la onde ela não está.

Para nós, rendamos graças ao Senhor que consentiu em rasgar aos nossos olhos o véu que nos separa da Vida Futura, porque a morte não parece temível senão para aqueles que não entreveem nada além. O Espiritismo, ensinando ao homem de onde ele vem, para onde vai, e para que fim está na Terra, dotou-o de um imenso benefício, uma vez que lhe dá a coragem, a resignação e a esperança…

Caro senhor Nant, nós vos acompanhamos pelo pensamento no mundo dos Espíritos onde ides recolher o fruto de vossas provas terrestres, e as virtudes das quais destes o exemplo. Recebei nosso adeus, até o momento em que nos será dado em nos juntarmos a vós”.

A Imortalidade da Alma e a Comunicabilidade dos Espíritos provadas pelo Espiritismo assinalam e justificam seu viés consolador. Em toda a história da humanidade nenhuma religião e muito menos nenhuma filosofia conseguiu esta proeza lograda pelo Espiritismo: desconstruir a morte como mito e desvelar os incomensuráveis panoramas do Mundo Maior onde estua a Vida Abundante referida pelo meigo Rabi Galileu.

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