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Formigas: um problema antigo

Adellunar Marge

O botânico e naturalista francês Auguste de Saint Hilaire (1779-1853), fez parte de uma comissão francesa que veio ao Brasil para tratar da reintegração de posse da Guiana, conquistada à França ainda no governo de D. João VI. O grande naturalista passou vários anos em nosso país estudando paisagens e costumes e em uma de suas obras, “Viagem à Província de São Paulo”, fez a famosa citação “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. Já naqueles distantes tempos as formigas eram uma praga em nossas lavouras, destruindo plantações e causando imenso prejuízo ao homem do campo. Quando ainda não existiam leis rígidas de proteção ao meio ambiente, usava-se formicida em pó e, posteriormente, o poderoso e nocivo Blenco, um formicida líquido que se gaseificava no interior dos formigueiros destruindo toda a colônia. Depois surgiram as famosas iscas, que as formigas operárias carregam para dentro do formigueiro e lá elas fermentam e liberam o seu veneno.

Mas um formigueiro é um exemplo típico de organização social rígida, onde cada um exerce a sua função obstinadamente desde o nascimento até à morte. Basicamente possuem os “soldados”, encarregados de defender a colônia, as “operárias”, que são as cortadeiras em corredeiras imensas de mão dupla, em um trabalho organizado onde umas, postadas no alto das plantas, cortam as folhas e outras, as carregadeiras, as transportam para o formigueiro onde fermentarão e formarão os bolos nutricionais. É uma organização tremendamente chata e monótona que nenhum ser humano suportaria. Que o diga a cigarra da fábula.

Mas o interessante é a reprodução desses bichinhos. Normalmente uma vez por ano, após um período de chuvas em que a terra molhada se torna macia, nascem nos formigueiros as formigas aladas, cujos machos são os Bitus e as fêmeas, as Tanajuras. Os machos são menores e as fêmeas bem maiores, com o traseiro bem avantajado, pois repleto de gordura.

Os machos alçam vôo primeiro e, talvez pela secreção de um hormônio, atraem as fêmeas. Em pleno vôo ocorre o acasalamento. A fêmea copula com vários machos e após fecundadas, descem ao solo. Os machos, coitados, nasceram para apenas um momento de prazer. Depois da cópula morrem e caem ao solo.

As tanajuras, de volta do seu vôo nupcial, cortam as próprias asas e iniciam a perfuração do terreno para a formação da sua colônia. No interior do formigueiro colocará seus ovos já fecundados dos quais nascerão soldados, operárias e, a cada ano, novas tanajuras que construirão novas colônias. Enquanto não nasce a sua prole, ela se alimentará daquele estoque de gordura armazenada em seu corpo. Uma rainha vive aproximadamente dezoito anos e cada formigueiro pode ter uma média de 500 mil formigas. Aí podemos entender a dificuldade para se acabar com elas.  Ainda mais com as restrições a defensivos químicos. Certa vez, quando tentávamos eliminar formigueiros que infestavam um laranjal de nossa propriedade, um vizinho, muito preso às tradições, afirmou que usava dois métodos para acabar com formigueiros: um era colocar cinza quente na porta do formigueiro e o outro era benzeção. Não preciso dizer que no sítio desse vizinho as formigas só não cortavam as velhas lascas de braúna da cerca.

As TVs fizeram extensas reportagens sobre as revoadas de tanajuras em vários pontos do Brasil este ano. Dezenas de pessoas recolhiam as tanajuras em garrafas Pets ou em baldes para fritar seus volumosos abdomens em óleo quente e acrescentá-los às farofas.

Esse hábito nunca atiçou meu apetite, mas é bom que atice o de muita gente, pois não deixa de ser um meio natural e ecologíssimo para acabar com as formigas antes que elas acabem com Brasil.

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