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Lula e o seu inconformismo com a democracia

É bastante sintomática a prisão do líder do governo, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), como também fora, anteriormente, a do empresário José Carlos Bumlai, amigo íntimo do ex-presidente Lula. No caso do senador, ele foi preso por querer atrapalhar as investigações da Polícia Federal, ao tentar dificultar uma colaboração premiada de um dos diretores da Petrobras – Nestor Ceveró -, já preso há algum tempo e que falaria sobre uma possível participação sua em irregularidades na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Há aproximadamente 15 dias, um dos filhos do ex-presidente também teve a sua empresa devassada, numa ação conjunta, feita pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

A presidenta Dilma, em um de seus discursos logo após a sua posse, querendo avocar para si e para o seu governo o sucesso da Operação Lava-Jato, disse que todos os casos de corrupção continuariam a ser investigados e que “não ficaria pedra sobre pedra”. Certamente, ela já se arrependeu do que disse, pois, debaixo das pedras, existem muitas cobras “criadas”, extremamente peçonhentas e um risco inimaginável para o lulopetismo.

Um dos pontos críticos das divergências entre Lula e a atual presidenta é a aproximação das investigações que andam rondando o ex-presidente, embora nada, até o momento, possa indicar que haja provas capazes de incriminá-lo. Preocupado com o rumo que anda tomando as operações da Polícia Federal e do Ministério Público, Lula vem atuado nos bastidores e já conseguiu plantar dentro do atual Ministério dois dos seus maiores aliados: o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, designado para ministro-chefe da Casa Civil e Ricardo Berzoini, para o Ministério das Comunicações.

Ainda, sem nenhuma cerimônia, Lula vem tentando que a presidenta atire pela janela o ministro José Eduardo Cardozo, justamente ele, que é o titular do Ministério da Justiça, ao qual a Polícia Federal está subordinada. Portanto, a sua tentativa nesse sentido não é por acaso.

Da mesma forma, ele vem agindo na economia ao pressionar a presidenta para trocar o atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por Henrique Meireles, seu fiel escudeiro econômico nos seus dois mandatos, pois ele tem a percepção de que se a economia continuar mal, o prejuízo do seu capital político será incalculável, sendo apenas uma questão de tempo e que a carruagem desgovernada da presidenta pode atropelar os seus planos para 2018.

Acrescentando-se a todo esse histórico, é público e notório que o ex-presidente tem pouquíssimo apreço pela imprensa, a quem acusa de persegui-lo e de deturpar os seus pronunciamentos, resquícios de uma identificação velada com o sistema ditatorial imposto por Fidel Castro aos cubanos durante anos e também com o sistema antidemocrata chavista, na Venezuela. Portanto, democracia é uma palavra que, embora o ex-presidente não fosse louco o bastante para admitir, certamente hoje, ele gostaria mesmo é de riscá-la dos dicionários.

Mas alguém tem que avisar ao ex-presidente que, na democracia, as instituições funcionam. Que os poderes são independentes entre si, que a liberdade de imprensa e o direito da sociedade à informação são princípios prescritos na Constituição; que a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal são instituições livres e que estão fora do alcance das pressões, e que, finalmente, tentar obstruir as investigações pode dar cadeia, mesmo que seja por poucos dias, em prisão temporária.  O senador Delcídio que o diga.

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