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O CONSERTO DO BRASIL

Adellunar Marge

Não resta dúvida que em nosso país as instituições políticas sempre foram propensas a desvios morais, desde longa data. Herdamos da pátria colonizadora certos hábitos de paternalismo, em que a população sempre procurava encontrar no governante o salvador da pátria, aquele em que poderíamos e deveríamos depositar todas as esperanças para a solução dos problemas econômicos e sociais da nossa terra.

Essa herança cultural foi aperfeiçoada e levada a um extremo tal que a população muitas vezes se transformou em “massa de manobra” para políticos e partidos inescrupulosos chegarem ao poder e sugarem até à exaustão os recursos públicos.

Um tal estado de coisas é algo que só se altera através da educação, tanto a formal, informativa, como a de berço, gestada nos lares de cada um e, esta principalmente, formadora da base moral da população. Isso seria um instrumento de defesa contra os demagogos e pregadores de políticas assistencialistas. Aqueles que se beneficiam das dificuldades do país e distribuem migalhas de assistência em troca dos votos que os mantém no poder. São o que chamamos “caftens das desgraças alheias”.

A situação chegou a um tal estado no Brasil de nossos dias que o reparo vai ser difícil. Seria como consertar um carro velho, com centenas de peças danificadas, motor passando óleo e os pneus carecas. Mas um país não é um carro e nós não podemos e nem queremos comprar um país novo. Queremos este nosso Brasil, com todas as suas mazelas, mas também com todas as suas potencialidades geográficas e humanas.

Mas em termos de política partidária a nossa “Terra de Santa Cruz” está difícil de consertar (com S). O comum e usual no sistema político em nosso país tem sido mesmo o concerto (com C) entre as agremiações partidárias para se chegar ao poder com o mínimo de esforço possível e sofrendo as mínimas conseqüências pelos atos de corrupção cometidos. Com o conserto (com S) poderíamos eliminar da política, através do voto por exemplo, os atores do maior esquema de corrupção ocorrido no Brasil nos últimos 13 anos, um processo de desvio moral que escandalizou o mundo e transformou o nosso país em motivo de chacota entre as demais nações.

Mas eleição, principalmente para Presidente da República, em dois turnos, leva ao enorme risco de “concertos” entre partidos, com ofertas de Ministérios, cargos em segundo escalão e outras benesses, para se conseguir apoiamentos e garantir a vitória. Não se espantem se estiver no rol das ofertas indultos a condenados. É dar muita chance para o diabo agir. Aí “ficaria tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Daí o extremo perigo de eleições em dois turnos em países com instituições políticas ainda imaturas e frágeis como o nosso.

Basta um engano em uma tomada de decisão na hora do voto, movido pelo fanatismo ou por interesses escusos, para causar um mal de difícil “conserto” no futuro, com um preço a pagar muito alto para uma população inteira, já sofrida com o desemprego e com os sistemas precários de saúde, educação e segurança. Menos, é claro, para aqueles que se locupletaram com as ilicitudes de quase uma década e meia de poder e de desmandos e se acostumaram com as tetas generosas do poder. Esses velam e orquestram uma sinfonia diabólica pelos seus interesses.

Há poucos dias vi nas redes sociais algo que chamou a atenção de todos que viram. Falava-se sobre aquela célebre pergunta feita por Pilatos há mais de dois mil anos: “Quem vocês querem que seja solto, Jesus ou o ladrão Barrabás”. A massa, induzida pelos farizeus dispersos entre ela,  pedia a soltura do ladrão Barrabás.

Não temos em nossa política nenhum Jesus, é claro. Mas Barrabás, temos aos montes, resguardadas raríssimas exceções.

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