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O instrumento da razão

É muito difícil mesmo a isenção, neste mundo de bombardeio ideológico em que todas as ações humanas acabam sendo fruto de influências alheias. Não é à toa que uma das profissões em moda na atualidade é a de “influenciador digital”, que faz você comprar até mesmo o que não precisa ou pelo menos não seria oportuno comprar naquele momento. Parece que um bloqueio impede, na maioria das pessoas, a capacidade de proceder a uma análise crítica e agir por vontade própria.

Quando alguém abre mão do instrumento da razão para criticar o mundo que o cerca ele dá o primeiro passo para a alienação. Alienar-se é justamente transferir para outro o poder de “pensar por você”. A história tem demonstrado através do tempo o direcionamento de grandes rebanhos humanos por grupos ideológicos das mais diversas tendências e sujeitas às mais diversas motivações.

As religiões foram, desde a origem das civilizações, um poderosíssimo processo de poder que, instrumentalizando o medo e a esperança, exerceram o domínio de civilizações inteiras. Em um passado remoto a civilização egípcia com os “Faraós-deuses” que detinham o poder de vida e de morte sobre a população. Nas eras medievais e Moderna, o violento poder das Inquisições que lançavam à fogueira as mentes contestadoras, em nome de um Deus que, na realidade, jamais representaram. Nos tempos atuais, alguns radicalismos religiosos ainda motivam e instrumentalizam “homens bombas” semeando o medo e a insegurança nos grandes centros urbanos.

Mas as coisas mudaram e não se usa mais a violência para a dominação. E nem precisa. Usa-se a sutileza das comunicações, os “papos” em salas de aula, a “falação” em botecos ou programas de entrevistas de “intelectuais de almanaque” e a profusão de linhas religiosas das mais diversas tendências vendendo esperanças a deserdados da sorte.

Do mesmo modo devemos nos preocupar com os candidatos a cargos eletivos nas épocas eleitorais. Junto a alguns bons, sempre temos aquela tralha que pouco se preocupa com o interesse público. Muitos deles com processos em curso na justiça mas que, ainda não condenados, gozam do direito à candidatura, justamente com a esperança de renovarem as suas imunidades. O período de eleições é uma boa época para analisarmos com maior rigor os candidatos e os interesses de seus apoiadores e analisar com maior rigor a isenção das chamadas pesquisas de intenção de votos. Como grande parte do eleitorado gosta de votar em candidato que vai ganhar, para ostentar o orgulho de dizer que “não perde voto”, as tais pesquisas, quando colocam à frente um determinado candidato acabam contribuindo decisivamente para a sua vitória, artificializando o processo. O Brasil, queiram ou não alguns, está sendo passado a limpo. Uma limpeza difícil, não resta dúvida, mas é uma assepsia moral necessária se quisermos fazer do nosso país uma nação de verdade. Quem sabe um dia as chamadas pesquisas de intenções de voto terão sua prática revista, justamente como meio de aperfeiçoamento do sistema democrático.

Infelizmente nem todos fazem uso da análise crítica como instrumento de defesa contra os maus políticos e contra as ideologias perniciosas que insistem em exercer o domínio sobre as pessoas, transformando-as em “massa de manobra”.

Um pensador húngaro disse certa vez, e com muita propriedade, que a “apragmozyne filosófica é a morte da razão especulativa” ou seja: a despreocupação com uma análise crítica acaba matando a nossa capacidade de especular racionalmente. Aí sim, seremos presas fáceis daqueles que se pretendem condutores de rebanhos. O homem, por sua própria natureza e destinação histórica, não tem e nem deveria ter vocação para ovelha.    23

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