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O limite do respeito às convicções

A humanidade tem sido um imenso rebanho desde o início dos tempos. Líderes de todas as tendências e convicções têm dirigido comunidades inteiras, apontando caminhos e ditando procedimentos. O rebanho, acrítico por sua própria natureza de rebanho, segue passivamente a direção apontada, sem contestação. Líderes políticos, religiosos e, na modernidade, os manipuladores da mídia, impõem suas convicções e ditam o comportamento das massas.

As redes sociais ampliaram esse leque de lideranças, dando voz a toda espécie de manipuladores que injetam nas redes as mais variadas e às vezes as mais desastradas opiniões. O pior é que os integrantes do rebanho replicam as mensagens dando a elas uma falsa credibilidade que não resiste a mais tênue análise crítica. E as frases feitas e de efeito se multiplicam nas telinhas dos telemóveis de minuto a minuto e são recebidas e absorvidas pelos “tele-guiados” que as replicam imediatamente.

O tema agora tem sido respeitar e aceitar as diferenças e as convicções de cada um, inclusive convicções políticas, religiosas e comportamentais. Uma atitude eminentemente ética se não analisada com a profundidade requerida. Dito assim sem a menor preocupação crítica, abre caminho para o desdobramento de vários problemas.  Devemos aceitar então as doutrinas ditatoriais de regimes extremistas? A doutrina racista de um seguidor do neo-nazismo? As práticas alienantes e nocivas de algumas linhas religiosas? Um terrorista, quando se deixa explodir com uma bomba atada ao corpo, ou dirige um veículo sobre uma multidão de turistas, não o faz por mero deleite, mas atendendo a uma convicção interior que responde a uma crença religiosa que o manipula e o transforma em instrumento de destruição. Um “homem bomba” é, acima de tudo, alguém que acredita, alguém que tem uma profunda fé em alguma coisa.

Foi justamente não aceitando e combatendo determinadas “diferenças e convicções” que se interrompeu aberrações como o “Tribunal da Inquisição”, as condenações aos Gulags soviéticos na fria Sibéria, e tantas outras linhas de pensamento que costumam transformar o homem em um arremedo daquilo que deveria ser.

Mas essas distorções surgem, ganham força e se encastelam nas consciências porque justamente a grande maioria das pessoas permanece como um rebanho acrítico e algumas vezes quando pensa que está exercitando a crítica costuma estar repetindo modelos críticos que lhes foram passados por manipuladores ideológicos.

Por volta da década de 1960 o governo dos EUA ficou preocupado com o enorme contingente de “hippies” no país. O grande problema era que os hippies não liam jornais, não escutavam noticiários radiofônicos e nem outro sistema de mídia. Isso os deixava de certa forma fora do “controle” das instâncias de governo que usavam justamente a mídia para formar o tipo de população desejada. Hoje, o recurso são as redes sociais. Se por um lado podem ser úteis e necessárias para fiscalizarmos as instâncias de poder que sucumbem ante a corrupção, podem ser também instrumentos de alienação e de ampliação do já imenso rebanho.

Respeitemos sim as convicções pessoais, as crenças de cada um, mas estritamente até o limite em que essas crenças e convicções pessoais não sejam nocivas à comunidade em que vivemos.

 

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