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Os efeitos da inépcia

Há funções que são próprias do Estado e se referem a direitos inalienáveis dos cidadãos. Uma dessas funções é a segurança pública. Quando o governo, por incompetência de gestão descuida-se dessa função, compromete a tranquilidade pública e a harmonia social.

Há muito tempo, o poder público no Brasil vem deixando o crime organizado e os baderneiros ocuparem o seu lugar. Há um poder paralelo que se alastra e se instala progressivamente nas periferias dos grandes centros e até mesmo em centros menores. Na medida em que o poder público se ausenta, seu espaço é ocupado por facções criminosas ou arruaceiros comuns que, sentindo-se livres, agem desinibidamente, amedrontando a maioria pacífica da população e afrontando as nossas instituições.

Os arrastões, na praias da Zona Sul do Rio de Janeiro, têm sido um exemplo da inépcia dos governos em garantir a segurança da população. São um exemplo vivo de vandalismo que desassossega os cidadãos, compromete a imagem do Rio como destino turístico e atesta a fragilidade das nossas instituições de poder.

Chegando ao limite da tolerância e da paciência, jovens da Zona Sul do Rio resolveram partir para o confronto e promover a justiça com as próprias mãos. Um passo perigoso em direção à barbárie.

A imprensa, seguindo o clichê habitual, acusa os jovens por sua reação e exige punição para eles, mas não pede punição para os que promovem os arrastões. É claro que é uma resposta violenta a um comportamento violento dos que promovem os arrastões e as invasões de ônibus. Violência gera violência. Mas não podemos perder de vista as motivações desse quadro de convulsão social, que é, justamente, a incompetência do poder público em oferecer à população as condições básicas de segurança pública, que deveria ser um dever do Estado.

Ao se ausentar de determinadas áreas, o poder público cede o seu espaço a um poder paralelo que se alastra pelas periferias, aviltando a população e impondo o seu poder pela força e pelo medo coletivo.

Quando o poder público não exerce as suas funções, é de se esperar que a população acabe criando mecanismos de defesa, ainda que ao arrepio da lei, para salvaguardar a integridade dos seus membros. E isso se transforma em um ódio coletivo irracional.

É claro que existe um quadro de imensas desigualdades sociais e de descontentamento de uma camada da população estigmatizada por um baixo poder aquisitivo, mas nada que justifique os arrastões nas praias cariocas. Existem outros fatores a serem considerados. Alguém que se locupleta com um assalto em poucos minutos e permanece impune, não se submete ao trabalho de um mês para ganhar um salário mínimo ou dois que sejam. O que atenuaria essas situações seriam a dignidade pessoal, a educação de berço e uma educação formal de qualidade, valores cada vez mais difíceis nos dias de hoje, por inumeráveis razões.

Até que sejam resolvidos esses problemas de origem, o poder público tem que tomar as rédeas do governo e instaurar a ordem. Caso contrário, vão se multiplicar o número de “justiceiros” que queiram fazer com as próprias mãos a justiça que o poder público incompetente não faz.

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